Meu pai, senhor João Pantoja, era um homem de poucas
letras, mas tinha uma disposição sem igual para a leitura. Todos os dias depois
do almoço. Após a sesta era indispensável, ele sentava para ler jornal e revistas que sempre conservava a mão. Nem sempre era o jornal do dia, pois
ele dizia que não tinha ninguém que conseguisse ler todo um jornal. Ele lia o
jornal inteiro, só escapando o caderno de Classificados. Tinha seus
autores preferidos, dente eles o Cléo Bernardo e o João Malato.
Os artigos de sua preferência ele os recortava e colava
nas folhas de um caderno de capa grossa que ele mandou fazer para esse fim,
onde também fazia alguns registros.
Pouco antes de nos deixar ele começou a distribuir alguns
de seus pertences particulares. Para o seu bisneto João Paulo entregou umas
moedas antigas (tinha até pataca) que ele guardava em um cofre que ficava embaixo de sua cama. acondicionadas em uma daquelas embalagens
dos antigos filmes Kodak, Fuji etc.
Certa tarde ele me chamou e me entregou algumas folhas
daquele seu caderno contendo alguns artigos que naquela época não me
despertaram tanta curiosidade, como despertaram nesse fim de semana quando
revisitei aquelas lembranças.
Dentre os recortes encontrei um artigo de autoria do
Mestre João Malato, que falava sobre as eclusas do Rio Tocantins, infelizmente
nesse recorte meu pai esquece de anotar a data da edição do Jornal. Passo a reproduzi-la
pois é um tema ainda bem atual, pois nesta quinta feira a presidente da república esteve aqui no Pará para anunciar o lançamento do edital de derrocamento do Pedral do Lourenço, dentre outras gentilezas para os paraenses, tendo como pano de fundo sua campanha pela reeleição (Deus nos livre e guarde disso). Mas vamos ao artigo...
“Cegueira cívica de um ministro
João Malato
Se cada homem pagasse pelos seus erros, e no próprio
lugar em que os cometesse, esse ministro Coraldino, que não se sabe porque
cargas d’água foi chamado a dirigir a Pasta dos Transportes do governo
Figueiredo, deveria ser lançado no Tocantins, à montante da barragem de
Tucurui, na hora da abertura de suas comportas, para que ele fosse engolido por
uma delas, para ser triturado pelas palhetas das turbinas e, a seguir, vomitado
no turbulhão líquido que sai dos vazadouros.
Nenhum outro castigo seria condigno de um homem que
chamou a si a responsabilidade de negar as verbas já consignadas no orçamento
da União, para a construção das eclusas de Tucurui, sem as quais o mundo vai
assistir o terceiro maior rio das três Américas ser interceptado a qualquer
tipo de navegação, por lhe faltarem meios para continuar a cumprir o seu
destino histórico, de condutor das riquezas da imensa região a que ele serve.
Mas, onde a insensibilidade cívica do Sr. Coraldino uma
fundura deprimente, foi na declaração pública que fez, de que “essa história de
eclusas no Tocantins, só depois do ano 2000, talvez fosse levada a sério”.0 que
se respira dessa ministerial facécia, não é somente a insensibilidade cívica,
mas também incompreensão cultural, ignorância da História, cegueira econômica e
inadaptabilidade para a função que ocupa,pois não é possível adminitir que um
secretário de governo colocado em Pasta tão importante no desenvolvimento dos
transportes e do intercambio comercial do Brasil com o mundo inteiro, possa
menosprezar e menoscabarde uma hidrovia da importância da Tocntins-Araguaia,
que interliga o Planalto central brasileiro com os portos nacionais amazônicos
mais próximos da Europa e dos Estados Unidos, nossos maiores clientes na
importação de tudo o que produzimos nessa prodigiosa região.
Nenhum comentário:
Postar um comentário