Meus amigos, no dia 11 de dezembro todos os paraenses devem ir às urnas participar do plebiscito manifestando sua vontade pela divisão ou não do estado Pará. Porém, antes de tomar a decisão, é bom ler um pouco sobre a forma como está sendo operado o marketing desse processo. Qual é a motivação maior que leva políticos e marqueteiros a empenharem até suas almas nessa luta. Vale a pena ler o Artigo de Roberto Pompeu de Toledo, publicado na Revista VEJA, 2245, ANO 44, Nº48, que busca mostrar de maneira inequívoca as artimanhas utilizadas no desenvolvimento do processo. Muito cuidado. Leiam na íntegra o referido texto.
“Caro amigo paraense
No dia 11 de dezembro, você votará sim ou não à partição do Pará em três unidades. A proposta é que toda metade oeste do do atual estado se transforme no estado do Tapajós e a parte sudeste no de Carajás, continuando com o nome de Pará a região onde fica Belém e um pouco mais. Essa história de criação de novos estados, como você bem sabe é controvertida. Chovem argumentos por todo lado, todos altamente especulativos e por isso altamente discutíveis. O que escapa à controvérsia é que se trata de um ótimo negócio para os políticos, dada a orgia de novas instituições à criar, de novos cargos a preencher e de dinheiro a gastar. Tudo isso você sabe. O objetivo destas mal traçadas é falar de um personagem que depois de muitas peripécias, Brasil afora, agora aportou por aí, metido na campanha do plebiscito. O nome dele é Duda Mendonça. Gentilmente ele ofereceu seus serviços à causa separatista, ele que, se não vive no estado, pelo menos tem bois que vivem, na fazenda de sua propriedade no território candidato a virar Carajás. Oferta aceita e ei-lo no comando da campanha do sim.
Todo mundo o conhece. Sabe de sue s trunfos eleitorais, como mago do marketing, bem como do lado menos aprazível de réu no processo do mensalão. Já o que ele andou aprontando nas eleições de são Paulo o amigo paraense não deve saber. Permita um breve relato. Na eleição de 1996 para a prefeitura de São Paulo, Duda Mendonça fez o marketing do candidato Celso Pitta. Quatro anos antes ele fizera o do mentor de Pitta., Paulo Maluf. Pitta erá um político desconhecido. O marqueteiro julgou que a campanha necessitava de alguma pirotecnia. Saiu-se então com um trem voador, um mágico bólido que suspenso em vias elevadas, catapultaria a cidade para um transporte até então só acessível a família Jetson. Nas animações para a propaganda de TV ficou uma beleza. Para transformá-lo em realidade o custo seria assombroso, a logística complicada, a utilidade discutível, mas e daí? Importava a ganhar a eleição. Celso Pitta ganhou.
E agora? Se ganhou embalado pelo trem, impunha-se fazê-lo. O novo prefeito começou a implantar vigorosos pilotis, altos de 15 metros, ao longo do Rio mais central da cidade, o Tamanduatei. Sobre ele seria construída a via ao longo do qual correria a engenhoca. Algumas centenas milhos de reais foram investidos na obra, e ficou-se nisso. Pitta não passou dos pilotis iniciais. ficaram eles, abobalhados e inúteis – um pressuposto de obra de engenharia tornado ruína no nascedouro. A sucessora de Pitta, Marta Suplicy, pensou no que fazer daquilo, pensou, pensou, e nada fez. O sucessor de Marta, José Serra, chegou a cogitar em destruir os pilotis. Depois pensou melhor, e resolveu aproveitar pelo menos os já existentes. A obra foi inaugurada, já na administração Gilberto Kassab, não mais como via de trens, mas como simples corredor suspenso de ônibus.
O amigo paraense não precisa conhecer todos os detalhes do sinistro episódio. A intenção é alertá-lo sobre o alcance que pode atingir uma marquetagem irresponsável – e a palavra “irresponsável”vai aqui no sentido puro de qualificar um agente que não responde pelos seus atos. O marqueteiro não foi eleito. Não tem função pública. Portanto, não lhe cabe responder por um ato. E no entanto teve origem no capricho de um marqueteiro toda sucessão de decisões e indecisões que resultou num corredor de ônibus suspenso, ao qual só se tem acesso subindo penosas escadas, desarticulado do geral do sistema de transportes urbanos, desestruturador da paisagem urbana e na contramão do melhor urbanismo – que desaconselha as vias aéreas pelas cicatrizes que impingem às cidades e pela deterioração que produzem no entorno.
Duda Mendonça já foi de Paulo Maluf a Lula. Se um marqueteiro deve manter coerência política, é algo que escapa a esse missivista. É curioso, em todo caso, lembrar que nos anos 1980 ele esteve presente à frente da campanha que se opunha a um projeto de divisão do estado da Bahia. Um texto por ele composto, que era lido por Maria Bethânia na TV, afirmava que dividir a Bahia era como separar o Jorge do Amado, o Dorival do Caymmi, o Rui do Barbosa, o Gilberto do Gil. Já separa o Fafá do Belém, o Paulo Henrique do Ganso, o Billy do Blanco e Jayme do Ovale, isso pode. Em São Paulo, ao arriscar-se no urbanismo, Duda Mendonça deixou sua marca indelével no ônibus pendurado à beira do rio. Agora se aventura na engenharia política e calca a mão pesada no mapa do Brasil. Leve isso em conta, amigo paraense
DE TOLEDO, Roberto Pompeu. Caro amigo paraense. Revista VEJA. Editora Abril. Nº 2245. ano 44. 30 de Novembro de 2011. pág. 182. São Paulo – SP.”
“Caro amigo paraense
No dia 11 de dezembro, você votará sim ou não à partição do Pará em três unidades. A proposta é que toda metade oeste do do atual estado se transforme no estado do Tapajós e a parte sudeste no de Carajás, continuando com o nome de Pará a região onde fica Belém e um pouco mais. Essa história de criação de novos estados, como você bem sabe é controvertida. Chovem argumentos por todo lado, todos altamente especulativos e por isso altamente discutíveis. O que escapa à controvérsia é que se trata de um ótimo negócio para os políticos, dada a orgia de novas instituições à criar, de novos cargos a preencher e de dinheiro a gastar. Tudo isso você sabe. O objetivo destas mal traçadas é falar de um personagem que depois de muitas peripécias, Brasil afora, agora aportou por aí, metido na campanha do plebiscito. O nome dele é Duda Mendonça. Gentilmente ele ofereceu seus serviços à causa separatista, ele que, se não vive no estado, pelo menos tem bois que vivem, na fazenda de sua propriedade no território candidato a virar Carajás. Oferta aceita e ei-lo no comando da campanha do sim.
Todo mundo o conhece. Sabe de sue s trunfos eleitorais, como mago do marketing, bem como do lado menos aprazível de réu no processo do mensalão. Já o que ele andou aprontando nas eleições de são Paulo o amigo paraense não deve saber. Permita um breve relato. Na eleição de 1996 para a prefeitura de São Paulo, Duda Mendonça fez o marketing do candidato Celso Pitta. Quatro anos antes ele fizera o do mentor de Pitta., Paulo Maluf. Pitta erá um político desconhecido. O marqueteiro julgou que a campanha necessitava de alguma pirotecnia. Saiu-se então com um trem voador, um mágico bólido que suspenso em vias elevadas, catapultaria a cidade para um transporte até então só acessível a família Jetson. Nas animações para a propaganda de TV ficou uma beleza. Para transformá-lo em realidade o custo seria assombroso, a logística complicada, a utilidade discutível, mas e daí? Importava a ganhar a eleição. Celso Pitta ganhou.
E agora? Se ganhou embalado pelo trem, impunha-se fazê-lo. O novo prefeito começou a implantar vigorosos pilotis, altos de 15 metros, ao longo do Rio mais central da cidade, o Tamanduatei. Sobre ele seria construída a via ao longo do qual correria a engenhoca. Algumas centenas milhos de reais foram investidos na obra, e ficou-se nisso. Pitta não passou dos pilotis iniciais. ficaram eles, abobalhados e inúteis – um pressuposto de obra de engenharia tornado ruína no nascedouro. A sucessora de Pitta, Marta Suplicy, pensou no que fazer daquilo, pensou, pensou, e nada fez. O sucessor de Marta, José Serra, chegou a cogitar em destruir os pilotis. Depois pensou melhor, e resolveu aproveitar pelo menos os já existentes. A obra foi inaugurada, já na administração Gilberto Kassab, não mais como via de trens, mas como simples corredor suspenso de ônibus.
O amigo paraense não precisa conhecer todos os detalhes do sinistro episódio. A intenção é alertá-lo sobre o alcance que pode atingir uma marquetagem irresponsável – e a palavra “irresponsável”vai aqui no sentido puro de qualificar um agente que não responde pelos seus atos. O marqueteiro não foi eleito. Não tem função pública. Portanto, não lhe cabe responder por um ato. E no entanto teve origem no capricho de um marqueteiro toda sucessão de decisões e indecisões que resultou num corredor de ônibus suspenso, ao qual só se tem acesso subindo penosas escadas, desarticulado do geral do sistema de transportes urbanos, desestruturador da paisagem urbana e na contramão do melhor urbanismo – que desaconselha as vias aéreas pelas cicatrizes que impingem às cidades e pela deterioração que produzem no entorno.
Duda Mendonça já foi de Paulo Maluf a Lula. Se um marqueteiro deve manter coerência política, é algo que escapa a esse missivista. É curioso, em todo caso, lembrar que nos anos 1980 ele esteve presente à frente da campanha que se opunha a um projeto de divisão do estado da Bahia. Um texto por ele composto, que era lido por Maria Bethânia na TV, afirmava que dividir a Bahia era como separar o Jorge do Amado, o Dorival do Caymmi, o Rui do Barbosa, o Gilberto do Gil. Já separa o Fafá do Belém, o Paulo Henrique do Ganso, o Billy do Blanco e Jayme do Ovale, isso pode. Em São Paulo, ao arriscar-se no urbanismo, Duda Mendonça deixou sua marca indelével no ônibus pendurado à beira do rio. Agora se aventura na engenharia política e calca a mão pesada no mapa do Brasil. Leve isso em conta, amigo paraense
DE TOLEDO, Roberto Pompeu. Caro amigo paraense. Revista VEJA. Editora Abril. Nº 2245. ano 44. 30 de Novembro de 2011. pág. 182. São Paulo – SP.”
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