terça-feira, 15 de abril de 2014

A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E O VETO A CRIAÇÃO DE NOVOS MUNICÍPIOS



Desde o final do ano passado, quando após intensa negociação, o grupo que acompanha mais de perto o processo de regulamentação do parágrafo quarto do artigo de nossa Constituição Federal viu a matéria ser vetada integralmente pela presidência da república é intensa a movimentação do emancipalistas visando redirecionar o exame do tema. Afinal, a quem cabe o exame da matéria no Congresso Nacional? Aos senhores Congressistas?  A Presidência da República? Estamos diante em um impasse.
Os emancipalistas constituem-se um grupo eminentemente constitucionalista, pois há muito vimos apoiando nossa luta na regulamentação da matéria em nossa CF, primeiramente sentando na mesma mesa com representantes da Secretaria de Assuntos Institucionais e com a Casa Civil da Presidência da República. Pacificada a questão, a matéria seguiu para votação na Câmara Federal, onde foi aprovada com margem folgada.Posteriormente a matéria foi encaminhada ao Senado Federal, onde mais uma vez foi aprovada em plenário com expressiva votação.
A segurança de nossa luta era apoiada pelas horas incansáveis de negociação com representantes da Presidência da República, com os Deputados Federais e com os Senadores da República. O cenário era animador, pois a sintonia entre os diversos setores nos credenciava a uma inquestionável sanção da matéria.
Mas não sabíamos que no meio do caminho havia uma pedra, uma pedra chamada Ministério da Fazenda. Com uma presidente da República que não lê o que assina (é o que pareceu – e que o nosso país está fartamente informado disso - PETROBRÁS), mesmo à despeito de ter colocado uma enorme equipe de auxiliares de governo para acompanhar a luta, preferiu acompanhar o ministro da Fazenda, que em um parecer irresponsável e inconsistente, induziu a presidente a assinar o veto integral a matéria.
O problema estava criado. Alguém exclamou: Vamos ter que novamente bater às portas do judiciário! É o fantasma da judicialização da política batendo mais uma vez a nossa porta.
Recordemo-nos, que nossa luta por algum tempo deixou a esfera política passando para os tribunais, momento em que foi apreciada Adin proposta pelo Estado do Mato Grosso, que findou em o Congresso Nacional ter sido posto em mora por dezoito meses, facultando aos Estados criarem sua própria Lei caso o Congresso Nacional não legislasse para preencher o vacatio legis.
Mas afinal, o que é a judicialização da política?  É o nome que se dá a uma situação quando deputados e senadores deixam de decidir sobre assuntos dentro do Parlamento e pedem socorro aos tribunais.
O assunto político vira matéria judicial. Em vez de negociações políticas, julgamentos. Em vez de voto em plenário, sentença judicial.
O cientista político Ran Hirscchl, da Universidade de Toronto, no Canadá diz: “Já descrevi esse processo como transição para uma juristocracia”. É um fenômeno crescente nas democracias ocidentais. Começou depois da II Guerra Mundial, quando o modelo americano de democracia constitucional se espalhou pelo mundo. Nas últimas duas ou três décadas, no entanto, começaram a aparecer casos extremos de judicialização d definiu qual seria o lugar a política.
Na Africa do sul, coube à Suprema Corte decidir se o pacto político pós-apartheid era ou não aceitável. Na Alemanha, o Tribunal Constitucional definiu qual seria o lugar do país no contexto da União Européia. Em Israel, os magistrados decidiram o que se deve entender por “estado judeu democrático”. Nenhum desses assuntos é, por natureza, uma questão jurídica ou legal. São temas eminentemente políticos.
No Brasil, a coisa se banalizou mais ainda. A divisão dos royalties do petróleo, por exemplo, gerou uma disputa entre os estados. Com políticos incapazes de chegar a uma solução, o assunto foi parar na justiça. Até a criação de uma CPI vira disputa jurídica. Os parlamentares – todos, oposicionistas e governistas - abrem mão de suas prerrogativas, renunciam à responsabilidade política e abdicam do poder de decidir – e depois reclamam quando o STF invade a seara parlamentar, como no caso da cassação do mandato dos mensaleiros condenados à prisão. O cidadão comum já percebeu a preponderância do jurídico sobre o político. Tanto que hoje em dia, que é mais fácil observar uma concentração popular em frente ao STF do que do Congresso. É diante da estátua da justiça que ficam as manifestações  sobre casamento homossexual, abortos em células anencéfalia, pesquisas com células tronco embrionárias. São temas que os políticos na condição de representantes eleitos pelo voto popular, deveriam enfrentar. São temas que definem o eixo moral da Nação.
Cabe às Cortes decidir sobre esses profundos dilemas políticos e morais? Será que o judiciário tem as credenciais democráticas para tanto? Segundo Luiz Moreira, autor do livro “Judicialização da Política”, coletânea de artigos nacionais e estrangeiros sobre o assunto: “Estamos criminalizando a política e relativizando o voto”. É má notícia para nossa jovem democracia. Lá fora, tal como aqui, a juristocracia não é uma criação de magistrados sedentos por poder e influência, ávidos por assaltar as prerrogativas parlamentares. É o contrário.  A juristocracia só prospera num teatro político em que os eleitos pelo povo se sentem à vontade com a entrega do poder decisório aos homens de toga.
Para nós emancipalistas, dependendo do resultado da sessão de hoje, 15/04, não restará outra alternativa senão batermos mais uma vez na porta do STF. Afinal o nosso Congresso Nacional não passa de um corpo amorfo, que a Presidência da República molda da maneira que quer.
E o povo brasileiro, o grande depositário do mandato desses senhores, precisam mostrar quem é que manda realmente nesse nosso país. Vamos bater novamente na porta do STF. Para isso mais uma vez temos de contar com a valorosa colaboração de nosso companheiro Salim Abdala, do Estado do Mato Grosso.
Ou então, para aqueles que acreditam em fadas ou gnomos, só resta confiar que esse processo alternativo de autoria do senador Mozarildo Cavalcante, que está sendo alardeado como alternativa para o veto (manutenção dele), vá atender as aspirações dos emancipalistas.
A ideia está lançada!

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