domingo, 21 de agosto de 2011

PDT - movimento pela legalidade

Em viagem a Brasília, comitiva de deputados sugere: Jango pode tomar posse em Porto Alegre
O PARLAMENTO GAÚCHO NO MOVIMENTO DA LEGALIDADE
Em viagem a Brasília, comitiva de deputados sugere: Jango pode tomar posse em Porto Alegre
Vanessa Canciam - MTB 2060 | Agência de Notícias 17:00 - 19/08/2011
Edição: Sheyla Scardoelli - MTB 6727 Foto: Fotomontagem / FT -Acervo Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
Jornais da época noticiam a viagem dos deputados a bordo de avião da Varig
Jornais da época noticiam a viagem dos deputados a bordo de avião da Varig
Porto Alegre poderia ter sido a sede do Congresso Nacional durante o Movimento da Legalidade. Pelo menos esta era a intenção de uma comitiva de deputados estaduais gaúchos, que, em 30 de agosto de 1961, embarcou em um avião Caravelle da Varig rumo a Brasília. “Nós achávamos que aqui poderia haver a volta do Jango tranqüilamente e ele assumiria a Presidência da República em Porto Alegre”, lembra um dos integrantes do grupo, ex-deputado Gudbem Castanheira, do Partido Libertador (PL).
O embarque ocorreu por volta do meio-dia de uma quarta-feira, quinto dia da resistência instaurada pelo governador Leonel Brizola em prol da defesa da posse de João Goulart. Nesse momento, a luta pela legalidade já tinha conquistado o apoio do III Exército no Rio Grande do Sul, por decisão do general Machado Lopes, que desobedecia as ordens do Ministério da Guerra. Jango já estava em Paris e aguardava o momento de retornar ao Brasil. A Assembleia Legislativa se mantinha em sessão permanente desde a sexta-feira anterior. Em meio à convulsão política instalada, os parlamentares gaúchos empreendiam mais uma tentativa para garantir a posse do vice-presidente eleito.
“Não me lembro quem teve a ideia. Nós fomos para ficar menos de 24 horas em Brasília. Saímos daqui com a roupa do corpo e com diária adiantada de 24 horas para o nosso sustento na Capital Federal”, conta Castanheira. A Última Hora, jornal da época, atribuiu ao presidente da Assembleia, Hélio Carlomagno (PDS), a ideia de propor a transferência ao Congresso Nacional. “A viagem desta delegação parlamentar foi decidida pouco antes pela Assembleia, não dando tempo a alguns deputados sequer de levarem outra roupa que não a do corpo”, consta na edição de 31 de agosto da Folha da Tarde, publicação que também cobriu a ação.
Ameaça de prisãoA viagem resolvida às pressas seguiu com imprevistos no trajeto. Os jornais da época relatam que, numa escala do voo feita em São Paulo, foi dado um aviso aos deputados para que retornassem a Porto Alegre. Se chegassem ao destino, lá seriam presos. “Os deputados eram corajosos, não se amedrontaram com o aviso de serem presos. E o avião seguiu viagem”, lembra Castanheira. A coragem citada pelo ex-parlamentar foi requerida logo no desembarque. A ameaça foi cumprida e o grupo, detido por militares da Força Aérea. “Eles estavam tentando evitar nosso contato com os congressistas. Eis que o país estava vivendo uma situação anômala com ameaça de guerra interna”, recorda o ex-deputado do PL.
Da prisão improvisada no aeroporto de Brasília durante algumas horas, a comissão de deputados gaúchos só saiu após a intervenção do presidente do Senado, o paulista Auro Moura Andrade (PDS), o mesmo que dias antes havia recebido a carta-renúncia de Jânio Quadros. “Ele se dirigiu até o aeroporto e manteve um diálogo com os militares que nos prenderam. Após esse diálogo, ficamos livres e pudemos percorrer, sem susto, as salas do Congresso Nacional”, afirma Castanheira.
Situação do RS surpreende congressistasSegundo o ex-deputado, a ação da comitiva em Brasília durou até a madrugada. “Corria a notícia que Porto Alegre seria bombardeada, principalmente o Palácio Piratini. Esses boatos surpreendiam os congressistas federais. Eles sabiam que ocorria alguma coisa no Rio Grande do Sul, mas não sabiam a dimensão do risco. A impressão que nós tivemos é que, com a nossa presença, os congressistas em Brasília ficaram realmente a par do Movimento da Legalidade”, conta. O ex-deputado não lembra detalhes de como foi recebida a proposta de transferência do Congresso para o Rio Grande do Sul. Sabe-se apenas que ela não foi aceita, como comprova a história. Tanto é que, dias depois, o Legislativo federal aprovou uma emenda na Constituição para implantar o regime parlamentarista no país.
O trabalho da comitiva estava encerrado, mas os contratempos da viagem ainda não. Brasília, com pouco mais de um ano de fundação, não demonstrava ter infraestrutura suficiente. “O Hotel Nacional, que era o que havia lá, estava superlotado. Nós tivemos que dormir nas poltronas do Congresso, com a roupa do corpo. Me lembro como se fosse hoje. Não teve como achar hotel, qualquer lugar serviu para pernoitarmos”, lembra Castanheira. No dia seguinte, parte da comitiva voltou a Porto Alegre, chegando na madrugada do dia 31, segundo nota do jornal Última Hora. Um pequeno grupo - Euclides Kliemann, Paulo Brossard, Arthur Bacchini e o próprio Castanheira - seguiram para o Rio de Janeiro, só retornando a capital gaúcha dias depois.
A comitiva De acordo com a Folha da Tarde de 31 de agosto de 1961, dezesseis deputados integraram a comissão oficial do Legislativo: pelo PTB, Suely de Oliveira, Sereno Chaise, Seno Ludwig, Ney Ortiz Borges, Domingos Spolidoro, Siegfried Heuser e Jairo Brum; pelo PSD, Naio Lopes de Almeida, Euclides Kliemann e Moab Caldas; pelo PL, Paulo Brossard de Souza Pinto e Gudbem Castanheira; pelo PSP, Adaury Pinto Fillipi e Adalmiro Moura; pela UDN, Arthur Bachini, e pelo PDC, José Zachia.
 

 

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