domingo, 18 de novembro de 2012

O PREÇO DO PODER

Os petistas nunca hesitaram em apontar o caminho da cadeia para os corruptos. Com a condenação dos mensaleiros, porém, a prisão agora deixa de ser o lugar adequado para quem comprou políticos com dinheiro público roubado.

O PT já defendeu de forma intransigente a ética e e moralidade pública, apresentando-se como a única vestal naquilo que considerava um grande bordel de partidos. O PT já chamou de ladrões os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor, entre outros poderosos, para em seguida bradar que lugar de corrupto é na cadeia. O PT já considerou a imprensa e o Ministério Público personagens centrais nos esforços empregados para acabar com a impunidade do colarinho branco no Brasil. Isso, obviamente, nos tempos em que o partido comandava a oposição. Ao chegar ao poder com a eleição de Lula, o PT abandonou uma a uma essas bandeiras, reescrevendo o roteiro e o personagem que encenava em público. Os baluartes da ética saíram de cena. No lugar, assumiu um grupo que acreditava se perpetuar no poder comprando tudo e todos. Comprou deputado, comprou partidos, comprou consciências. Patrocinou o maior escandalo de corrupção da história - e, se nada de insólito acontecer, também vai pagar caro por isso.
Na semana passada o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu as penas dos petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, condenados por formação de quadrilha e corrupção ativa no processo do mensalão. os ministros impuseram a Dirceu, considerado pela Corte como o chefe da organização criminosa,  uma pena de dez anos e dez meses de prisão. Ele terá de passar quase dois anos na cadeia, em regime fechado, até reivindicar a progressão de pena para o regime semiaberto, no qual o condenado trabalha durante o dia e  dorme atrás das grades. Uma situação parecida com a de DelúbioSoares, o tesoureiro responsável pelo caixa clandestino que subornou parlamentares em troca de apoio ao governo Lula. Já a punição imposta ao Genoino, presidente petista à época do escândalo foi de seis anos e onze meses e terá de ser cumprida inicialmente em regime semiaberto. Toda a antiga cúpula petista, portanto, mantidas as punições até agora fixadas, expiará pelo menos parte dos pecados na prisão. Um desfecho inimaginável para os réus que apostaram na promessa do ex-presidente Lula de desmontar o que ele chamava de "farsa" do mensalão.
Depois de aliar-se a adversários que antes tachava de bandidos, de adotar o fisiologismo como prática de governo e de usar recursos públicos para comprar votos no Congresso, o combativo PT, que durante mais de duas décadas pregou nas ruas o combate à corrupção e a punição dos corruptos, também mudou o discurso para defender a tese de que cadeia não é lugar para banqueiros, empresários bem sucedidos e políticos preeminentes. Para o partido que se diz do povo, a prisão deve ser reservada tão somente ao próprio povo, ao ladrão de galinha, ao pé rapado. Essa nova contraofensiva começou quando o petista José Eduardo Cardozo, qualificou de "medieval" a situação das cadeias brasileiras.

AS PENAS
JOSÉ DIRCEU, Ex ministro da Casa Civil do governo Lula
Crime: Formação de quadrilha e corrupção ativa
Pena: 10 anos e 10 meses e multa de R$ 676.000,00

JOSÉ GENOINO, Ex-presidente do PT
Crime: Formação de quadrilha e corrupção ativa
Pena: 6 anos e 11 meses e multa de R$ 468.000,00

DELÚBIO SOARES, Ex-tesoureiro do PT
Crime: Formação de quadrilha e corrupção ativa
Pena: 8 anos e 11 meses e multa de R$ 325.000,00
 
PEREIRA, Daniel e MARQUES, Hugo. O PREÇO DO PODER. Revista VEJA. Edição 2296. ano 45. nº 47. 21 de novembro de 2012. Editora Abril. São Paulo.   

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