Amazônia A biodiversidade e a poeira do Saara |
É natural pensar que a ultima vez que
a América o Sul e a África estiveram conectadas há mais de 240 milhões de anos,
quando toda a terra firme do planeta era um único continente que aos poucos foi
se separando, chamado de Pangeia. Mas, não é bem assim: Os dois continentes
estão ainda estão intrinsicamente ligados, graças à poeira do deserto do Saara,
que viaja por meio das chuvas da Amazônia.” A Amazônia está integrada na
atmosfera do planeta como um todo. Além dela exportar o vapor da água e aerossóis
biogênicos, ela absorve gases do efeito estufa e também recebe nutrientes que
vem do deserto do Saara junto com a poeira e as emissões de queimadas,
inclusive com esporos e sementes de espécies pequenas que abundam na África”,
diz Paulo Artaxo, físico e cientista do clima que é vice-presidente da Sociedade
Brasileira pra o Progresso da Ciência.
O fenômeno incide principalmente no
extremo norte da Amazônia, onde fica a Flota do Paru, mas é um evento que já
foi registrado em áreas urbanas e mais centralizadas, como Manaus, a capital do
Estado do Amazonas, local onde Paulo Artaxo e o grupo de pesquisadores que ele
coordena encontrou os primeiros indícios da poeira do Saara na região, 25 anos
trás. Segundo Artaxo, o fenômeno é muito importante para a fertilização do
bioma.
A NASA, agencia espacial dos Estados
Unidos, publicou, em 2015, um estudo que atesta que o deserto envia anualmente
22 mil toneladas de fosforo para a Amazônia, nutriente encontrado em
fertilizantes comerciai e essencial para o crescimento d floresta, com arvores
fortes, altas e resistentes. É quase a mesma quantidade que a floresta produz
com a decomposição das árvores caídas. Segundo a agência, esta reposição de fósforo
é importante, pois as fortes chuvas “lavam” os nutrientes do solo.
A poeira mais rica em fósforo vem da
depressão de Bodélé, no Chade, que há mil anos foi um lago que secou. Segundo a
NASA, todos os anos, 690 mol caminhões de areia atravessam o Oceano Atlântico
rumo às Américas do Sul e Central graças à dinâmica das chuvas. Cerca de 28 milhões de toneladas desse volume
total caem na Bacia Amazônica. ”Mas não só poeira e fosforo que é um fertilizante.
Há diversos microrganismos, vírus, bactérias, fungos. Estamos qualificando o impacto
disso na biodiversidade, medindo as composições elementares dos aerossóis que
chegam na floresta”, diz Artaxo.
As informações sobre as chuvas são preliminares: em média caem 2 miligramas por quadrado (mg/m2) de ferro, 21 m2 de magnésio e 0,97 mg/m2 de fosforo, compensando parcialmente o volume de nutrientes que o Rio Amazonas transporta da floresta para o mar. O estudo é conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com pesquisadores da China, EUA e Alemanha.
Fonte: LAVIANO, Eduardo. Poeira do Saara fertiliza a Amazônia, Jornal O Liberal. Página 10. Caderno Atualidades. Seção Cidades. edição 12 de março de 2023, Belém - Pará.
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