Texto de Antonio Pantoja
Homem por que és tão mau assim?
O que foi que eu te fiz?
Que tanto incômodo eu te causo?
Não lembras que todos os anos eu te mostrava o milagre do
renascer.
Quando eu ficava totalmente despida,
Minhas folhas todas caiam!
Quem não me conhecia pensava que eu estava me despedindo
da vida...
Não, eu apenas revigorava minha energia, minhas vestes,
minhas folhagens!
Nas minhas delicadas plumas
Espalhava vida ao sabor do vento!
Eu fazia a alegria da vida!
Sei que até tentaram me encobrir, esconder a minha
presença
Mas a exigência de um monstro mecânico registrado
E a obrigação de me substituir por outras tantas da minha
espécie
Prolongou minha existência.
Comemorei a vida...
Senti que alguém vibrou com isso!
Se dependesse deles eu continuaria a viver...
Mas, hoje os vejo tristes com meu destino.
E eu continuo a me perguntar:
Homem por que és tão mau assim?
O desespero tomou conta de mim
Ao ver na calada da noite a chegada de homens maus
Armados de instrumentos barulhentos e cortantes dentes
afiados
Fizeram-me sentir a dor em minhas raízes...
Perfuraram minhas raízes...
E pelas feridas Injetaram em meu corpo
Um líquido entorpecente...
Sem maldade, eu nem desconfiava do que estava acontecendo
O líquido que me deram pra beber não trazia a vida, mas a
dor.
O que te fiz para merecer isso homem mau?
Nunca gostaste do milagre da vida que todos os anos eu
ter mostrava?
Da sombra generosa que amenizava o calor da tua vida?
Da grandeza de minha copa que espalhava graça e beleza?
Por que injetaste em mim o manto da noite eterna?
Aos poucos vou sentindo o manto negro da noite encobrir
minha existência...
Definho a olhos vistos...
Minha raiz enfraquece...
Minhas folhas caem...
Meus braços caem um a um...
E eu que sentia que com meus braços longos espalhava,
proteção, sombra, alegria?...
Triste destino o meu!
Não se entristeçam aqueles que gostam de mim
Apenas lamentem haver homens tão maus assim
Lembrem-se: o milagre da vida permanecerá ao seu lado
Mesmo depois que eu virar cinza.
Será que amanhã quando olharem e não mais sentirem minha
frondosa copa
Os homens de coração mau não mudarão seus sentimentos?
Afinal todos sentirão a minha falta
E isso não é presunção é fato!
Mas sei que a ausência um simples vegetal afetará vida de
poucos
Mas, é a esses poucos que eu dedico as minhas últimas lembranças
A vida segue...
Outras Sumaumeiras continuarão a incomodar aqueles homens
maus
Suas plumas serão como fantasmas que povoarão seu sono...
E todos os anos ao verem outras de minha espécie
reproduzindo o milagre da vida
Sentirão batendo fortes em seus corações
A dor de terem injetado em minhas entranhas o líquido da
morte
O líquido da noite eterna...
Sombras caem...
A Noite chega...
O fim se aproxima...
Penso naqueles amigos que sentirão mais que os outros o vazio de minha existência
Mas, a vida continua...
Olhem para o lado que verão outras da minha espécie
Continuarão a reproduzir todos os anos o Milagre da Vida...
Hoje meus restos encontram-se deitados a espera de meu
destino...
Porém, a vida
continua!
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