“Meu pai, por que sua ira não
se acalma?!
Não vê que em tudo existe o
mesmo brilho?!
Deus pôs alma nos cedros... no
junquilho.
Esta árvore, meu pai, possui
minh’alma!”
(In a Árvore da Serra, de
Augusto dos Anjos)
Por te querer dançante Deusa da Paisagem eu te agradeço,
Irmã do vento/cromo/lastro/Fadário da Cidade.
Eu te agradeço Cosmo Vivo/Escada para o Céu, por seres
generosa ao repartir tua água, ao espargir tua sombra e ofertar teus galhos e
abrigar os entes em noites sonhadoras.
Samaúma, Mãe do Mundo, Escada para o Céu, tu que tens
sapatos, sapopemas e frutos painas-voadoras; que transitas enraizada entre as
águas dos subterrâneos da floresta e a superfície, onde se arrastam ofícios primordiais
e pássaros lendários se acolhem nas ramagens; tu que reténs a dimensão da
verticalidade e a perpétua regeneração da tua evolução cósmica.
Samaúma, Samaúma, algum mistério escondeu teu rosto no
dia da morte da tua mãe aflita. Inerte, talvez, ela te escondeu na bruma da
manhã de abril em lírica magia. E te fez rainha, ainda que tuas folhas
respirassem em agonia à beira do Rio-mar.
Yaaxche, Árvore Sagrada. Malpanka, Mãe da Humanidade.
Lupuna. Mafumeira, Rainha da Floresta. Pulin, ocá, kumaca, bongo, paina lisa,
ora, kapok, poilão, pulin, algodoeira. Pelo planeta fincas tuas raízes
tabulares ante os olhos espantados dos humanos e suas linguagens ternas de
admiração por ti. Eles, que perdidos, se
orientam tocando os tambores dos teus pés.
Da tua fronde avistas os troncos seculares na
arrebentação dessas marés lançantes, onde avatares-pássaros revoam, inefáveis,
sobre o Panorama do Mundo, o Araxá o teu lugar. Então dominas toda a paisagem,
inflexiva ao vento do Amazonas, que te brinda em libações diárias.
Se em ti habitam arcanjos, anhangas, curupiras e
matintas, és a própria potestade a gerir um ecossistema interdependente, nunca,
todavia, como tuas irmãs castradas na floresta pelo golpe das serras amoladas
ou mortas pelo fogo da cobiça. E teu corpo, em plena luz, é fonte de óleo e
essência vital para todos nós.
És Lírica Magia, Poste Xamânico, Templo da Alma Pura,
Caminho do Céu. Teus galhos são degraus do sonho de Jacó, por onde transitavam
os anjos. Serias também, crescente vegetal do sonho de tantos nabucodonosores?
Árvore da vida, Campânula Gigante, tuas folhas trazem a
sombra que precisam os entes da latitude zero do equador de cáustica estação.
Tuas painas são almas que fluem pelo céu azul de setembro.
Lembro-me das tropas de amarelos tratores-caterpillas,
dos comandantes suados, dos operários mandados rebentando argilas de
civilizações passadas, dos homens que venceram na clivagem odienta de tantas
samaúmas do caminho.
Eu te agradeço Samaúma.
Eu te agradeço por sobreviveres além da bruma da manhã.
Eu agradeço a todos que te permitiram fecundar a terra com tua Semente-Alma,
pois és, ainda, encarnação do que nos une firmemente, após tantos átomos
quebrados, como carbono em um composto orgânico feito de tantas esperanças
fraternais.
Eu te agradeço, Samaúma, por dançares sob o sol,
recoberta de um verde encantador e por viveres sem cansaço sob a chuva, até
quando te despojas de tuas folhas todo ano.
Eu te agradeço, Samaúma, por seres Coluna Axial deste
lugar, onde tentas sustentar a alegria retida nos olhos dos que te querem viva
e soberana no Panorama do Mundo.
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