sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A CRIAÇÃO DE MUNICÍPIOS E A DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS CONSTITUCIONAIS

Alguns críticos do processo de criação de municípios emitem opiniões sem a menor sustentação. Se perguntarmos a esses críticos em que apoiam suas teses certamente serão raros aqueles que arriscaram alguma justificativa para a questão levantada.
Arvoram-se em dizer que criar municípios e criar mais ladrões. Perguntaria: Onde residem esses críticos? O que eles fazem de suas vidas? Qual a contribuição que eles já deram para suas comunidades?
Poucos ou quase nenhum deles saberá dar uma resposta convincente. E se perguntarmos qual o vereador em quem ele votou nas últimas eleições? O que o representante que ele escolheu anda fazendo pela sua comunidade? Pelo seu município? Mais uma vez tenho a certeza que ele se envergonhará de revelar tudo isso.
A escolha de um vereador, de um deputado, federal ou estadual, de um senador, de um governador, de um Presidente da República é algo tão sério, que jamais deveria passar pela cabeça de um eleitor fazer de seu voto uma mercadoria de troca, de produto de barganha. E olhem que na maioria de vezes trocam seu voto por coisas tão insignificantes, que tem até vergonha de revelar. E não é raro trocarem por bebidas, drogas, enfim...
Em dias de eleições eu já encontrei famílias reunidas, estando o patriarca ou a matriarca com inúmeros títulos nas mãos oferecendo para quem pagasse mais. Aí eu me pergunto: o que aquele ou aquela negociante de esperança espera para o seu futuro ou para o futuro de seus filhos e netos, se hoje ela vende o seu presente?
Podem observar que na maioria das vezes, aqueles que criticam sem um fundamento aceitável, geralmente são usuários recorrentes desse tipo de procedimento. São elementos que não possuem o mínimo de conhecimento necessário para discutir essa questão, então destilam seu descontentamento direcionado para aqueles que lhes enganou. Aquele que comprou seu voto e prometeu, às vezes, um emprego, uma carrada de tijolos, um milheiro de telhas, promessas que jamais cumprirá. Quase sempre ele só o reencontrará na próxima eleição. E tornará a vender seu voto. Isso porque ele pensa (quando sabe fazer isso) em mais uma vez pegar um dinheirinho (e isso o deixa contente). E depois passa quatro anos dizendo que todo político é ladrão. Mas o que dizer do eleitor que vende seu voto?
Mas vou dar um argumento para esse tipo de crítico. De acordo com o Pacto Federativo vigente, a distribuição das receitas totais da União, que costumamos chamar de bolo fiscal, é feita da seguinte maneira: A União fica com 57%, os Estados com 24,75% e os municípios ficam com 18,25%.
Tudo começa nos municípios. E a esse ente federativo cabe a menor parcela dos recursos da União (18,25%). Os municípios são responsáveis pelo que acontece na vida do cidadão: Educação, saúde, saneamento, segurança, agricultura, enfim, tudo o que se imaginar de política pública, é de responsabilidade do município. O prefeito é o primeiro a ser procurado para resolver problemas todo e qualquer problema que aflige um município. E observem que o município é quem fica com a menor fatia do bolo.
Por sua vez os Estados recebem a segunda maior fatia do bolo: 24,75%. E a maior fatia desse bolo fica com a União. Ora, dissemos que tudo começa nos municípios. Então por que a maior parcela desses recursos, que deveria ficar com os municípios fica com a União?
Por causa dessa carência de recursos para atender necessidades com uma amplitude gigantesca, começa então uma corrida em busca de verbas para atender a necessidade do povo que reside nos municípios. Onde estão localizadas as escolas? No Município. Onde ficam os postos de saúde? No município. Onde ficam as estreadas vicinais? Nos municípios. Onde são plantadas as grandes lavouras? Nos municípios. Mas os municípios não possuem recursos para atender essas demandas. O que fazer então?
Se os gestores quiserem resolver esses problemas, tem de recorrer aos governos estaduais e ao governo federal que é quem detém as duas maiores fatias do bolo fiscal. Ai então começa o grande calvário. Leva dinheiro do Estado e da União aquele prefeito que for alinhado com seu mandatário. O povo, como dizia um humorista das antigas: “O povo, é apenas um detalhe!”.
Pois é! Sabem por que, como povo, somos apenas um detalhe? Por que como cidadão não sabemos respeitar a arma que temos nas mãos: nosso TÍTULO DE ELEITOR. Se soubéssemos usá-lo não teríamos de viver gritando fora esse ou fora aquele! Bastaria que usássemos nossa prerrogativa de detentor do poder de comando. Fica aquele que bem servir ao povo.
E não venham me dizer que os poderes são corruptos, por que para eles o mesmo remédio. Usou do cargo ou da função para cometer excessos, usamos nosso direito de cidadão. Fora com eles também!
Temos instituições que nos protegem. Uma delas é o Ministério Público. Mas aí essa mesma massa crítica diria: é tudo farinha do mesmo saco! Mas eu diria se soubermos usar esse nosso direito, teremos um longo caminho a trilhar. O Ministério Público, que chamo de Guardião da Sociedade, é detentor do Munus Público. Não precisa ser prorrogado para agir em defesa da sociedade.
Falo por experiência própria. Já combati alguns prefeitos que considerava inservíveis ao município em que vivia. Em deles, apesar de coordenado sua campanha eleitoral, fui também o responsável pelo seu processo de cassação; o outro, apesar de não ter conseguido meu objetivo que era cassar o seu mandato, pois esse mandato chegou ao fim antes do julgamento do feito, me senti contemplado ao vê-lo condenado a nove anos de reclusão, ainda não cumprida por estar em grau de apelação. Isso é uma prova de que quando queremos conseguimos! As instituições estão ai para nos proteger.
Ainda com relação a essa massa crítica, pergunte a cada um deles qual sua contribuição para com a sua comunidade? Se ele souber dizer de alguma ação coletiva. Eu aqui mesmo me penitencio. Mas, com a maior sinceridade do mundo eu acho muito difícil essa massa crítica ter alguma coisa pra mostrar a sua comunidade.
Hoje quando buscamos retomar a luta pela emancipação política de alguns distritos paraenses, assistimos a essa massa crítica destilar seu veneno. E muitos deles, quem sabe, até bem pouco tempo estavam amarrados nas tetas de governos pouco comprometidos, e hoje afastados desses favores, vivem a destilar o seu veneno, criado pelo abandono a que encontram renegados por aqueles que lhe prometeram amparo em troca de seu voto.
Criar municípios não é criar mais despesas. É melhor distribuir os recursos constitucionais. Não existe espaço para criar mais despesas pelo simples fato de que os recursos não aumentarão pelo simples fato de se criar entre federativos. O que vai acontecer é que seu distrito passará a administrar os recursos que gera. Isso se chama justiça social.
Paralelamente a criação de municípios, esse grupo também luta pela mudança no Pacto Federativo, àquele que determina a divisão de bolo. O município, por ser o local onde tudo começa, precisa ser olhado com mais pertinência pelo parlamento na hora de se revisar essa lei. Pode ser que assim se a verdadeira revolução social em nosso pais. Porém, essa massa crítica, por não conhecer a motivação dessa luta, critica sem saber o que está criticando.
Triste essa massa crítica sem essência!

Na ponta do Iceberg, os municípios: 18,25%
No meio a União, com 57%
Na parte submersa, os Estados, com 24,75%

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