Uma grande
parte dos emancipalistas brasileiros viveu na semana que passou momentos angustiantes
à espera da Reportagem que a TV Globo iria mostrar na noite do domingo, no
Programa Fantástico, falando sobre a criação de municípios no Brasil.
Assistimos lideranças
que andaram conclamando os companheiros para desligar os aparelhos de televisão
para não ver a matéria. Manifestações outras pediam que ligassem para a
emissora pedindo direito de resposta (como se tivessem sido atingidos em sua
honra). Houve quem sugerisse que buscassem outros canais de televisão na
tentativa de encontrar espaço para mostrar a verdadeira matiz de nossa luta.
Enquanto
isso, lideranças mais moderadas pediam que assistissem a matéria para que se
pudesse formular uma resposta à altura da indignidade (sic) da matéria. Finalmente
chegou o domingo à noite. Muitas televisões foram desligadas e muitos outros
passaram a esconjurar a matéria jornalística sem conhecer o seu teor. Mas
muitas outros foram para a frente da TV.
Eis que
começa a reportagem. O tom é dramático: O Brasil tem quase 1,9 mil municípios
sem dinheiro nem para pagar a própria máquina pública.
E ai veio a
surpresa: A matéria explicou de forma bem didática o que aconteceu na criação
do maior número dos municípios brasileiros. A grande maioria sem o mínimo de
estrutura. A sede do município, geralmente o maior núcleo urbano, não possuía
um mínimo de estrutura para abrigar sequer os setores administrativos do novo
município. Muitas não possuíam nem um posto de saúde de atenção básica. Enfim,
não reuniam a mínima condição para abrigar um novo município. Naquela época o
que prevalecia era a vontade política de certos “coronéis” da velha política.
A falta de
atenção dos municípios mãe, aliado muitas vezes a grande distância que separa
os distritos das sedes municipais, ainda hoje se constitui uma grande dificuldade
para esses distritos que buscam sua emancipação.
É público e
notório que as dificuldades da maioria dos municípios brasileiros se acentuaram após a Constituição de 1988. A União delegou aos municípios a responsabilidade
pela execução de serviços básicos como saúde, educação, segurança, infraestrutura, dentre outros. Entretanto, só deu aos municípios a responsabilidade
sem a destinação dos recursos para manter essas atribuições/responsabilidades.
Na partilha
do “bolo fiscal”, 57% dos recursos ficam com a União, 25% com os Estados e
somente 18% chegam aos municípios. Essa partilha provoca uma distorção
selvagem. Tudo acontece nos municípios. Mas, curiosamente é o segmento menos
aquinhoado com a partilha das verbas que movimentam uma nação.
Essa
constatação o Movimento Emancipa Brasil já chegou há muito tempo. Estudos
realizados pelas federações do Estado do Ceará e do Pará concluem que nenhum
município brasileiro consegue sobreviver apenas com recursos provenientes de
transferências constitucionais.
Os
municípios precisam ter uma matriz econômica sólida que assegurem geração de
receitas próprias suficientes para assegurar a sustentabilidade efetiva do novo
município.
Em recente nota a Confederação Nacional dos Municípios se manifesta sobre a criação de municípios. Elenca em sua nota uma série de argumentos que há muito vem sendo defendidos pelo Movimento Emancipa Brasil(https://www.cnm.org.br/index.php/comunicacao/noticias/nota-da-cnm-sobre-estudo-da-firjan-e-criacao-de-novos-municipios)
Em recente nota a Confederação Nacional dos Municípios se manifesta sobre a criação de municípios. Elenca em sua nota uma série de argumentos que há muito vem sendo defendidos pelo Movimento Emancipa Brasil(https://www.cnm.org.br/index.php/comunicacao/noticias/nota-da-cnm-sobre-estudo-da-firjan-e-criacao-de-novos-municipios)
Dentre
esses pontos podemos destacar:
1. A descentralização
administrativa ocorrida a partir da Constituição de 1988, quando houve o
aumento das transferências da União para os entes federados, ou seja aumentaram
as competências sem o repasse correspondente dos recursos para dar resolutividades
para essas competências;
2. Sendo 89% dos municípios
com vocação para o agronegócio e esses municípios impedidos de tributar as
rendas oriundas do campo (mas são usadas no equilíbrio da balança comercial);
3. Como sobreviver a essa
sangria conhecida como transfusão ao contrario onde o mais fraco confere sangue
ao mais forte?
4. Os municípios estão arcando
com as contas da União;
O projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados (O PLP 137/2015) estabelece
critérios rígidos para criação de novas unidades federativas. As áreas
emancipandas terão que atender requisito antes não observados na criação de
municípios. Terão que atender requisitos antes impensáveis nas leis
casuísticas.
Antes
muitos municípios foram criados sem atender critérios mínimos que assegurassem
a sua mera sobrevivência. A partir da aprovação desse projeto de lei, os distritos/áreas emancipandas terão que
se submeter a um criterioso Estudo de Viabilidade Municipal – EVM. Esse
procedimento é quem dará a palavra final para que um distrito ou área
emancipanda reúna condições para participar de uma consulta plebiscitária, da
qual participará todo o município, não mais apenas a área que queria sua
emancipação. Muita coisa mudou.
Como se pôde
observar, ao fim da matéria, o medo e o temor era infundados. A matéria até serviu
como um combustível para nossa luta.
Agora, só
resta ao grupo buscar de forma consciente, a organização em todos os seus
substratos, partindo para a criação de um organismo nacional com capacidade
jurídica definida, tornando assim o movimento com personalidade e
representatividade.
E acima de tudo planejar suas ações com esmero e
responsabilidade. A retomada
dos eventos nacionais (Encontros Nacionais de Lideres Emancipalistas e Anexionistas) é fator primordial para que se dê continuidade a nossa
luta de forma planejada. Sem um mínimo de planejamento continuaremos a ser presa
fácil nessa árdua batalha.
Vamos
continuar nossa luta pela criação de municípios no Brasil. O Movimento Emancipa
Brasil está pronto para ir à luta aproveitando a deixa: Mais Brasil e menos
Brasília!
Belém (PA), 22 de janeiro de
2019
MOVIMENTO EMANCIPA BRASIL
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