domingo, 14 de fevereiro de 2010

MUDAM OS TEMPOS, MAS OS GOVERNOS CONTINUAM OS MESMOS

Vejam como tudo permanece como antes. Revendo meus arquivos encontramos aqui um artigo de autoria do jornalista Joelmir Betting, ainda atuante no jornalismo brasileiro, onde o autor procura mostrar o permanente confronto entre oposição e governo. Esse artigo é datado de 1987, mas o tema continua atual.
Vamos ao artigo:
Do MST ao MSV
“Não é que a oposição não veja a solução. Ela não enxerga é o problema. Juliano Bastilde – Sociólogo”
Um autêntico Dia Nacional de Luta contra um governo supostamente impopular deveria colocar nas ruas, em passeatas e comícios embandeirados, um contingente mínimo de 150 mil manifestantes no centro de São Paulo. Ou pelo menos 100 mil nas praias do Rio. Em São Paulo a manifestação orquestrada adicionou colunas de outras cidades e até de outros Estados. Os organizadores apostaram no engajamento de 15 mil. Pois conseguiram juntar 5 mil. O fracasso virou vexame.
Se é verdade, como dizia Talleyrand, que “cada oposição tem um governo que merece”, o Dia Nacional de Luta mostrou que estamos bem de governo e mal de oposição. Para um Brasil sabidamente esgarçado, é triste contar com uma oposição desse calibre. Os chamados “movimentos populares organizados” deram de perder as causas, que podem ser justas, pelo método de luta, que são simplesmente raivosos.
Caso das passeatas da Avenida Paulista, convertida em passarela da cidadania e do patriotismo. E desde quando bagunçar o trânsito já viscoso de uma metrópole estressada é desfilar bandeira vermelha da cidadania? Sexta feira, a passeata monstro de 5 mil engarrafou dentro, de automóveis e, principalmente, de ônibus sem alternativa, nada menos de 230 mil paulistanos. De resto, já maltratados, na mesma região da cidade, por passeatas nos dias pares e comícios nos dias impares. Ou seja, “atos públicos” mui populares.
“Quem exagera o método perde a causa”, ensinava Jean Jacques Rousseau, ideólogo da Revolução Francesa. No momento brasileiro, a saturação das passeatas disso ou daquilo repete o mesmo equivoco estratégico do grevismo obtuso de lideranças sindicais empenhadas em simplesmente mostrar serviço. Ou fazer carreira política. Na Itália, o grevismo dos anos 70 acabou por desmoralizar o exercício sacrossanto da greve justa e certa, desmobilizando a classe operária.
Entre nós, o fiasco da passeata desmoraliza o capital político de um movimento reivindicatório sério: o do funcionalismo em pé de greve. Ou em pé de guerra, como espalhou lá fora, semana passada, “The Washington Post”. Único problema: o movimento dos servidores públicos civis e militares, que dá carona ao oportunismo dos sem terra (MST) e à picaretagem dos sem voto (MSV), deu de tomar como causa o que não tem passado de efeito.
Seguinte: O descalabro orçamentário dos governos estaduais e o sadomasoquismo fiscal do governo federal resultam não da “política neoliberal de FH”, mas de um carcomido sistema de governo que não governa, não se governa e nem se deixa governar. O próprio funcionalismo em pé de guerra, que sempre faz parte do problema, não admite fazer parte da solução. Tomar o efeito pela causa e sabotar a reforma do Estado brasileiro é aprofundar a bancarrota do setor público, fazendo do funcionalismo público a profissão hoje mais aviltada da sociedade brasileira.

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