sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Aos corruptos, a desconfiança


Por que um ficha suja consegue se reeleger?
Por que um ficha suja consegue manter-se na vida pública, arrotando arrogâncias?
Por que um ficha suja tem desplante de debochar de todo mundo, argumentando que sempre conta com o aval do verdadeiro julgador, o povo?
As respostas à primeira vista, são singelas. A todas essas perguntas, a resposta obvia é: porque os fichas sujas têm votos.
Essa é a realidade, mas não a verdade. A verdade é uma, a realidade é outra.
Fichas sujas esclareçam-se logo, são homens públicos que têm mais prontuário do que biografia.
O ficha suja é aquele que, se vivesse num pais que não tivesse vergonha de combater a corrupção e tivesse pela frente um judiciário célere, seria preso e já estaria excluído da vida pública, até cumprir as penas que lhe foram impostas e até ressarcir o erário dos desfalques perpetrados.
O ficha suja, para que todo mundo entenda bem, é aquele que comumente chamamos de corrupto.
É o homem público que responde por crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, peculato, ocultação de bens, colarinho branco, entre outros.
Muitos desses exemplares de homens públicos já foram presos e algemados. Muitos estão com seus bens bloqueados. Muitos respondem a processos em várias instâncias, entre elas o Supremo Tribunal Federal (STF).
Muitos desses cidadãos acumularam patrimônios enormes, absolutamente incompatíveis com os ganhos auferidos como parlamentar, seja um vereador do menor município do País, seja um deputado federal ou senador com assento no Congresso Nacional.
Esses elementos – nocivos e perniciosos ao ambiente político – representam um perigo público. Porque a corrupção sabemos todos, é também ela nociva e perniciosa. É como se fosse uma erva daninha que se esgueira sempre em direção aos cofres públicos e os alivia criminosamente.
A corrupção custa vidas. O dinheiro que é desviado da saúde pública, por exemplo, é o mesmo dinheiro que poderia equipar postos de saúde ou hospitais de urgência e emergência. A corrupção emburrece. O dinheiro que é desviado da educação é o mesmo que poderia ser empregado para construir boas escolas e contratar bons professores.
A corrupção é um incentivo à violência. O dinheiro desviado da segurança pública é o mesmo que poderia ser aplicado na aquisição de equipamentos, viaturas e tecnologia para dotar as polícias de melhore condições para enfrentar os bandidos.
Mas por que então o ficha suja, um corrupto consegue se reeleger tanto?
Ele se reelege não porque tenha votos, mas porque as Leis permitem que ele se reeleja.
Ele se reelege porque um projeto como este do Ficha Limpa, aprovado recentemente pelo Congresso, abre tantas exceções que acaba inviabilizando os esforços para que a vida pública passe verdadeiramente por uma assepsia geral.
E essa história de um ficha suja dizer que se reelege porque o povo supostamente o absolve? Isso é conversa de ficha suja.
É certo que há juízos e juízos, assim como há juízes e juízes.
O juízo que um eleitor faz na hora de votar é diferente do juízo que um magistrado faz quando tem em mãos um processo em que um corrupto aparece como um réu.
O juízo de um eleitor é muito precário. Ele não dispõe, na maioria das vezes, de informações, de elementos, de fatos, de evidencias irretorquíveis de que um corrupto é, verdadeiramente, um corrupto.
E o juízo de um eleitor é se deve ou não votar neste ou naquele.
Um magistrado, ao contrário, deve fazer um juízo sobre condenar ou absolver alguém que figura como réu num processo qualquer em tramitação.
Por isso, não há dúvida: desconfie sempre de um corrupto. De tudo o que ele faz. De tudo o que ele diz.
Jornal O Liberal. Editorial. Caderno Atualidades, seção opinião. Pág. 3. 30.05.2010. Belém – Pará.

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