segunda-feira, 16 de agosto de 2010

AS ELEIÇÕES E OS PARAENSES: Em Viseu, o limite extremo da cidadania no Pará.


“Cidadãos que não sabem o nome da governadora e estão longe demais das campanhas: eles também fazem parte do mapa das eleições 2010.”
“Asfaltaremos 13 km da estrada” – Cristiano Vale, prefeito de Viseu.

Francisco dos Santos, 54 anos, não sabe quem governa o Pará. “É uma mulher né?”. “Não tô lembrado bem o nome dela, não”, responde quando perguntado sobre o assunto. Francisco dos Santos mora num pequeno barraco meio madeira, meio barro, à margem de uma estrada em péssimo estado de conservação, na divisa entre os municípios de Viseu e Bragança, no Nordeste do Pará. Não lembra quais foram os candidatos que receberam o voto dele nas últimas eleições. Mas sabe que será procurado novamente. “Toda eleição aparece um aqui, mas depois se o povo não sai da frente, ele é capaz de passar por cima”, diz quando mostra junto à mulher Dilva Conceição dos santos, o título de eleitor, uma das poucas provas concretas de que é, apesar de tudo, um cidadão.
A “vendinha” que dá sustenta a família de Francisco dos Santos é uma das poucas à margem da estrada, no finalzinho de Curupaiti, uma das 60 comunidades que pertencem a Viseu, município de uns 4 mil km2 e aproximadamente 54 mil habitantes, que faz divisa com o Maranhão e que, entre a descoberta de um garimpo no mangue e a economia do contracheque municipal, sobrevive de uma agricultura de subsistência ou da pesca. “Aqui se sofre muito”, resume Dilva Conceição.
É difícil chegar a Viseu por terra. Pelo menos 116 km da rodovia que liga Bragança ao município estão em estado deplorável. Buracos e poeira no verão. Buracos e barro no inverno. Às margens, centenas de barracos pobres. “Falta vergonha na cara dos governantes”, diz ‘seu’ João, o dono de um restaurante muito procurado em Viseu, de frente para o rio Gurupi. “Aqui já foi bom, mas passou a ter muita bandidagem, muito assalto”, diz ele que se lembra de ter servido um peixe assado a então candidata ao governo do Estado, Ana Julia Carepa. “Pedi que ela desse um jeito na estrada. Ela respondeu que estava na agenda dela. Pode ser que ela tenha perdido a agenda”, ironiza.
Não é o que acha o prefeito Cristiano Vale, do (PR). Vindo de uma família de políticos e atualmente ligado umbilicalmente à governadora, o prefeito de 40 anos, que não mora no município, diz que a relação com o governo estadual tem sido a melhor possível. “Já fizemos um convênio com o DNIT para recuperar a estrada. “Asfaltaremos 13 km da rodovia”, diz.
ELEITORES – 60 pequenas comunidades formam o município de Viseu, no extremo nordeste paraense.
MUNICÍPIO SOFRE FORTE INFLUÊNCIA DO MARANHÃO
                Viseu ainda vive as voltas com a questão da inadimplência. Está na lista suja do Calc, uma espécie de Serasa dos municípios. Depende de uma liminar da justiça para assinar convênios.
                É um município com forte concentração de maranhenses. Não é de estranhar isso. Afinal, o Maranhão está logo ali, bastando atravessar o rio.
                “Aqui a gente precisa de quase tudo. Nossa carência é muito grande”, diz o radialista Paulo Robson, 23, que comanda o programa Balança Viseu, numa rádio FM local, durante as tardes calorentas do município. Robson costuma receber cartas e telefonemas de ouvintes que reclamam de situações de abandono e pedem a presença do poder público.
ABANDONO
A carência dos serviços é perceptível. A delegacia é improvisada numa casa, enquanto, dizem, uma nova delegacia está sendo construída. O Fórum municipal foi destruído numa das já comuns manifestações populares que acabam por incendiar prédios públicos ao menor sinal de revolta.
Da mesma forma, apenas um hospital funciona em Viseu. É o Santo Antonio, administrado por freiras da Congregação de Santa Terezinha e que atende pelo SUS. A maior parte dos atendimentos é de casos de pneumonia e de males que afetam crianças como a diarréia. Resultado da pobreza. “A água aqui é barrenta”, diz irmã Clara Costa Alves, 62 anos, administradora do hospital.

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