domingo, 31 de janeiro de 2010

DO POVO, PELO POVO E PARA O POVO


Lendo o Jornal O Liberal,edição de 31.01.2010, despertou minha atenção o artigo do professor Gaudêncio Torquato. Minha imaginação voou até Viseu, município localizado na Região Nordeste de nosso Estado. Quanto infeliz é aquele povo com seus administradores. E o poder judiciário? Que lamentável é sua atuação. Levo ao conhecimento dos viseuenses o que pensa o professor da USP a respeito do assunto:O que o povo precia fazer para eliminar a corrupção e a promiscuidade entre os poderes.
"GAUDENCIO TORQUATO: Do povo, pelo povo e para o povo
O povo não é um detalhe nem uma abstração. A obviedade da assertiva se faz necessária diante de tantas decisões que se tomam em nome do povo e que examinadas quanto ao nexo, perdem, freqüentemente, sentido. Examine-se, por exemplo, a quantidade de leis, projetos, planos, programas e medidas administrativas aprovadas e implantadas pelas esferas políticas e governamentais do País. Quantas delas preenchem verdadeiramente o escopo democrático definido pelo conceito “do povo, pelo povo e para o povo”? Fosse o pais administrado sob a rigidez desse principio basilar da democracia, teríamos seguramente maiores índices de satisfação e bem estar social.
E como isso não ocorre o que vemos é uma intoxicação de ações governamentais, caracterizadas pelas multiformes de corrupção que acabam induzindo o povo a deseducação e a incultura. Na verdade, a cultura da corrupção está profundamente impregnada na vida nacional. Começo com a colonização, as capitanias hereditárias, o sistema de mando que fatiou a geografia do País com os primeiros donatários. Um exame da partilha política, Estado por Estado, há de mostrar que ainda existe a raiz feudal, presente nos grupos familiares que dominam parcela apreciável do sistema de poder.
Como se rompem as fortalezas feudais do Pais? Só há uma resposta: Por meio do voto. E como o voto pode redistribuir o poder, tornando viáveis os ideais do povo? A resposta é: Melhorando-se sua qualidade, aperfeiçoando-se o critério de decisão. E como isso pode ser conseguido? A única resposta: pela via da educação. U povo educado é o caminho da emancipação da Pátria. Por isso mesmo, interessa a muitos donos do poder a manutenção do status quo. Nessas ultimas eleições, por exemplo, levas de prefeitos foram eleitos não porque apresentaram as melhores propostas ou defenderam os ideais do povo. Ganharam porque compraram votos, esvaziando cofres municipais, distribuindo benesses, abrindo imensos buracos que procurarão tapar durante quatro anos de administrações inócuas.
Sabe-se de municípios falidos, onde centenas de pessoas acenam com cheques sem fundo, distribuídos por cabos eleitorais e prefeitos corruptos, mancomunados com burocratas imorais, promotores e juízes tolerantes, ineptos e também corruptos. Incrível, porém verdadeiro: em muitas cidades quem paga a conta da justiça (aluguel de casas de promotores e juízes) é a própria prefeitura. Será que a moralidade do Ministério Público restringe-se às grandes capitais, onde promotores destemidos e dignos cumprem com fidelidade sua missão de defender a sociedade?
A relação simbiótica de corrupção entre política e justiça acaba afastando o povo, ainda mais, dos poderes constituídos. O Brasil não agüenta mais segurar a corrente criminosa que age nas malhas intestinas do poder, unindo interesses individualistas de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores, lideres locais, grupos familiares. Há de se promover a retidão, a lealdade. Conta-se que o Duque Ai perguntou a Confúcio: “Mestre, o que devo fazer para conquistar o povo?” Ele respondeu: “Promova homens retos e coloque-os acima dos tortos, e conquistará o coração do povo”. Homens retos estão rareando entre nós.
Há uma pequena rua em Londres, cheia de lojinhas que vendem os mesmos tecidos, dos mesmos padrões e, incrível, pelo mesmo preço. Nem um centavo a mais ou a menos. Um brasileiro ali foi pechinchar. Surpreendeu-se quando o dono de uma das lojinhas recusou-se a vender o tecido. Ele vira o brasileiro sair de outra loja. Apontou: a sua loja é aquela. Ali, naquela ruazinha, cultivam-se a retidão, a lealdade, a honestidade. É exemplo de uma cultura sem barganhas e emboscadas. Infelizmente, estamos anos-luz distantes desse sonho. A política corrompe o povo e este, inculto, acaba votando em pessoas corruptas. Estamos dentro de um circulo vicioso. Mas não se deve perder a esperança. A fé acabará removendo montanhas. Com educação, nosso povo, lúcido e racional, palmilhará caminhos mais retos.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político".

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